Enquanto o número de mortos nos EUA aproxima-se dos 200 mil, a corrida pela vacina contra o novo coronavírus está tão atrelada à disputa política pelo comando da Casa Branca que os dois candidatos perderam a vergonha de expressar a torcida sobre o cronograma ideal para a imunização dos americanos: Donald Trump insiste que a vacina estará disponível antes do confronto nas urnas; Joe Biden acusa o presidente de apressá-la para obter ganho eleitoral.
Os americanos percebem claramente que a vacina está politizada e demonstram ceticismo sobre a sua segurança, segundo as pesquisas de opinião. A mais recente, realizada pela organização independente Kaiser Family Foundation, revela que apenas 42% se mostram receptivos a uma vacina.
Apesar de ansioso para oferecer a imunização o quanto antes, o presidente faz por onde para minar a sua legitimidade. Trump vive às turras com a comunidade científica. Nesta quarta-feira, humilhou publicamente Robert Redfield, o diretor do prestigiado Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, chamando-o de confuso.
Em depoimento no Congresso, horas antes, o especialista tinha assegurado que a vacina só estaria disponível para o público americano no fim de 2021. E ainda complementou ao referir-se às máscaras faciais como proteção mais eficaz do que qualquer vacina.
Trump não gostou e claramente contradisse Redfield. O CDC emitiu um comunicado, tentando adequar as declarações de seu diretor aos anseios do presidente-candidato, denotando, assim, a interferência direta e recorrente do governo sobre a agência federal.
Biden rapidamente reforçou de que lado está e, por tabela, ajudou a minar a credibilidade de uma vacina antes das eleições: “Deixe-me ser claro: eu confio em vacinas e nos cientistas. Mas não confio em Donald Trump e, neste momento, o povo americano também não pode.”
O democrata foi então acusado pelo presidente de espalhar teorias da conspiração contra vacinas — na esteira do movimento que ganha força no país. “Peço a Biden que pare de promover suas teorias porque tudo que faz prejudica o que estamos fazendo e põe vidas em perigo de forma imprudente”, assegurou Trump, sem apresentar fundamentos.
Pela sucessão de ataques e recriminações, é improvável que a distribuição da vacina proceda livremente da influência política. Se estiver disponível antes de os eleitores irem às urnas, é provável que ajude o presidente a recuperar pontos perdidos pelo manejo da pandemia do novo coronavírus.
Isso se, até lá, os americanos não tenham perdido a fé em suas agências científicas, como o presidente vem se esforçando para desacreditar.