A Paraíba pode ter pelo menos o dobro de mortes por Covid-19 do que o número oficialmente divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES). De acordo com dados divulgados na plataforma Portal da Transparência dos Cartórios de Registro Civil no Brasil, Especial Covid-19, até as 4h deste domingo (21), havia 1.577 registros de mortes ligadas diretamente à Covid-19, 834 a mais que os 743 mortos confirmados no sábado (20).
Conforme os dados divulgados na plataforma dos Cartórios de Registro Civil no Brasil, responsáveis por notificar oficialmente as mortes de todas as causas, entre 16 de março e 21 de junho, a Paraíba registrou 799 mortes classificadas como em decorrência da Covid-19, 165 mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), 553 mortes por insuficiência respiratória e outras 60 mortes por causa indeterminada.
De acordo com a metodologia da plataforma, as estatísticas se baseiam nas Declarações de Óbito (DO) registradas nos cartórios de todo o Brasil relacionadas à Covid-19. A plataforma hierarquizou essas causas, sendo uma causa para cada morte, incluindo as declarações que citam expressamente a Covid-19 como causa. Foram acrescentadas outras que não foram tipificadas como Covid-19, mas que foram por causas que podem ser consideradas sintomas comuns à doença causada pelo coronavírus:
- Síndrome respiratória aguda grave (SRAG)
- Pneumonia
- Insuficiência respiratória
- Septicemia (infecção generalizada)
- Indeterminadas (causas mortes ligadas a doenças respiratórias, mas não conclusivas)
- Demais óbitos (todos os outros tipos de óbitos que não estão listados a cima)
Considerando todos os critérios do Portal da Transparência do Registro Civil, o número de mortes na Paraíba seria ainda maior. Com as categorias de pneumonia, septicemia (infecção generalizada) e demais mortes, o estado teria até as primeiras horas de domingo um total de 6.812 mortes, um número nove vezes maior que as 743 mortes oficiais.
Para a SES, a discrepância nos dados informados pela entidade se dá porque são base de dados diferentes. A usada na contagem oficial é montada a partir do sistema e-SUS do Ministério da Saúde, alimentado com as informações das secretarias municipais, do estado, hospitais públicos e privados.
Ainda de acordo com Talita Tavares, porém, podem ser realizada investigações posteriores ao registros dos dados. “Isso é rotina da vigilância de cada município e estado após recebimento das informações pelo sistema de informação sobre mortalidade”, explica.
A demora da atualização dos dados no Sistema Sivep-Gripe, da plataforma do e-SUS, assim como nas causas identificadas pelos laudos médicos, passíveis de correções futuras, interferem para que haja a subnotificação.
Além dos problemas com as notificações por parte das autoridades de Saúde, o próprio sistema do Registro Civil em si é defasado. A atualização do sistema é feito a partir da informação repassada pelos cartórios de todo o Brasil, quando o registro de óbito é feito pela família da vítima em um prazo de 24 horas, no entanto os prazos legais para que o cartório informe no sistema nacional aquela declaração específica pode ser de pelo menos duas semanas.
O fato de haver mais óbitos no Registro Civil, que podem demorar em média até três semanas para serem atualizados, do que nos dados do Ministério da Saúde (os que são informados pela Secretaria de Saúde da Paraíba), que deveriam ser feitos em até 48 horas, é a prova da defasagem também das mortes por Covid-19.