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Deputado perde mandato por quebra de decoro após 27 anos no poder

O deputado Jalser Renier perdeu o mandato em uma sessão histórica na Assembleia Legislativa de Roraima na manhã desta segunda-feira de carnaval (28), em Boa Vista. Suspeito de liderar milícia e mandar sequestrar o jornalista Romano dos Anjos, a cassação dele foi aprovada por 18 dos 24 colegas de parlamento.

A cassação dele já havia passado pelas Comissões de Ética e de Constituição e Justiça. Ele foi o primeiro parlamentar no estado a perder o mandato por decisão dos deputados estaduais. Todo o processo foi marcado por confusão e xingamentos. Renier chegou a chamar o governador do estado, Antonio Denarium (PP) de “agiotazinho safado” e o relator da cassação, Jorge Everton (sem partido), de “mocinha” e “viadinho”.

Do lado de fora, enquanto deputados cassavam Jalser Renier, a população acompanhava voto a voto em um telão instalado na frente da Assembleia Legislativa. A cada argumento favorável, manifestantes, a maioria vestidos com camisas “fora Jalser”, vibravam eufóricos.

Logo após a sessão, o suplente George Melo (DC) tomou posse do mandato que ficou vago com a cassação de Jalser.

A sessão que cassou Jalser Renier, o ‘Menino de Ouro, foi presidida por Jânio Xingu, seu aliado político. Dos 24 deputados, 17 participaram da sessão extraordinária no plenário da Casa, dois participaram de forma virtual, e cinco faltaram ao ato histórico na política roraimense.

Veja como votou cada deputado

  1. Angela Portela (PP) – sim
  2. Aurelina Medeiros (Podemos) – sim (votou de forma virtual)
  3. Bethânia Almeida (PV) – sim
  4. Catarina Guerra (SD) – sim
  5. Chico Mozart (Cidadania) – sim
  6. Coronel Chagas (PRTB) – sim
  7. Éder Lourinho (PTC) – sim
  8. Evangelista Siqueira (PT) – sim
  9. Gabriel Picanço (Republicanos) – sim
  10. Jânio Xingu (PSB) – se absteve de votar
  11. Jeferson Alves (PTB) – sim
  12. Jorge Everton (sem partido) – sim
  13. Marcelo Cabral (MDB) – sim (votou de forma virtual)
  14. Neto Loureiro (PMB – sim
  15. Nilton do Sindpol (Patriota) – sim
  16. Renato Silva (Republicanos) – sim
  17. Soldado Sampaio (PCdoB) – sim
  18. Tayla Peres (PRTB) – sim
  19. Yonny Pedroso (SD) – sim

Além de Jalser, faltaram à sessão: Renan Filho (Republicanos), Lenir Rodrigues (PPS), Odilon Filho (PROS) e Dhiego Coelho (PTC).

Durante vários momentos, Xingu foi vaiado pelo plenário lotado e, em resposta, pedia silêncio para “não prejudicar a votação”. Em contrapartida, Jorge Everton e Soldado Sampaio, opositores de Jalser, foram ovacionados por defenderam publicamente a cassação do colega de parlamento.

Depois de iniciada a sessão, Jorge Everton falou sobre o relatório que pedia a cassação e fez um apelo aos colegas para que o seguisse no voto contra Jalser Renier.

Após os 18 votos favoráveis, a perda de mandato foi declarada em leitura feita por Xingu e ele encerrou a sessão. Logo em seguida, foi aberto um novo ato para dar posse ao suplente e o nome de Jalser foi excluído do telão depois de pedido do deputado Gabriel Picanço.

Cassado, Jalser não poderá concorrer às eleições de 2022 e ficará inelegível, para qualquer cargo, nos oito anos seguintes ao término desta legislatura, conforme a lei complementar federal nº 64 de 1990.

Nome de Jalser Renier é retirado do painel da Assembleia após ele perder o mandato de deputado — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR

Nome de Jalser Renier é retirado do painel da Assembleia após ele perder o mandato de deputado — Foto: Caíque Rodrigues/g1 RR

Sessão convocada por maioria

O mandato de Jalser Renier ia ser discutido na última quinta-feira (24), mas, na véspera, ele conseguiu uma decisão no Suprimo Tribunal Federal e garantiu a volta ao cargo de presidente da Casa e também a suspensão do trâmite de cassação. Mas, esta mesma decisão foi revista pelo ministro Alexandre de Moraes na sexta-feira (25) que ordenou a continuidade do processo.

A sessão desta segunda-feira foi convocada por 16 deputados, com base no artigo do regimento interno que diz que, em caso de urgência ou interesse público, a maioria dos parlamentares pode marcar o ato.

Jalser, que retornou à presidência da Ale-RR na quarta-feira (23) por decisão do Supremo Tribunal de Roraima (STF), chegou a considerar a sessão “nula” por usurpação de competência regimental. Deputados que fizeram a convocação, conseguiram um mandado de segurança no Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR) para garantir que a votação ocorresse.

27 anos consecutivos como deputado

Parlamentar polêmico, Jalser Renier é conhecido no estado como “Menino de Ouro” pela forma como ascendeu na política roraimense desde que foi eleito pela primeira vez quando tinha 21 anos de idade, em 1994, e desde então, nunca perdeu uma eleição. Ele era deputado havia 27 anos.

Em 2018, quando foi eleito pela última vez, recebeu 8.401 votos, o mais votado naquele ano.

Jalser já foi alvo de outras operações policiais. Ele foi preso pela primeira vez em 2003 por envolvimento no maior caso de corrupção em Roraima, o “Escândalo dos Gafanhotos”. Em 2016, ele voltou a ser preso pelo mesmo motivo.

Nesta segunda prisão, Jalser já era presidente da Ale-RR e cumpria regime semiaberto. Ele passava a noite na prisão e durante o dia, cumpria o expediente na Assembleia. Na época, Renier ficou nacionalmente conhecido como “presidente presidiário”. Em 2017, ele ganhou liberdade.

Já em 2019, o parlamentar foi alvo das operações “Cartas Marcadas” e “Royal Flush”, deflagrada pelo Ministério Público de Roraima, que investigou crimes de fraudes em processos licitatórios, contratos administrativos, lavagem de dinheiro, organização criminosa e obstrução de Justiça. A ação também mirou a esposa Cinthya Gadelha e outras cinco pessoas ligadas a ele.

No mesmo ano, ele foi condenado a pagar R$ 40 mil de indenização a então prefeita de Boa Vista, Teresa Surita (MDB), em um processo em que ela pedia reparação por ter sido xingada e ameaçada quando dava entrevista em uma rádio, em outubro de 2018.

Jalser voltou ao noticiário após ser apontado como suspeito de ser mandante do sequestro do jornalista Romano dos Anjos, pelo delegado da Polícia Civil, João Evangelista, que apura o crime. O inquérito identificou que o parlamentar ordenou o crime porque a vítima se tornou uma “pedra no sapato” ao fazer criticas a ele.

A investigação apontou que o crime, ocorrido e outubro de 2020, foi executado por policiais militares, entre eles coronéis e um major, que tinham ligação direta com Jalser. Os envolvidos foram presos em 17 de setembro e nessa sexta-feira na primeira e segunda fase da operação “Pulitzer”.

Nascido em Roraima, Jalser Renier Padilha tem 49 anos, é casado com Cinthya Gadelha, com quem tem dois filhos pequenos. Ele é formado em Gestão Pública e antes da política, ficou conhecido no estado por apresentar programas de rádio.

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FONTE:g1
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