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Deputado diz que Marília Arraes sugeriu que ele fizesse caixa com assessores

No último sábado, o deputado Túlio Gadêlha (PDT-PE) anunciou seu apoio à candidata petista Marília Arraes na disputa pela prefeitura do Recife. Em suas respectivas redes sociais, os dois comemoraram a aliança, que rendeu críticas da direção nacional do PDT, que apoia o concorrente do PSB na capital pernambucana, João Campos. Ao contrariar a orientação de sua própria sigla, Gadêlha levou em consideração a sua relação pessoal com Marília. Colegas na Câmara dos Deputados, eles são velhos conhecidos. E Marília lhe serviu como uma espécie de tutora de finanças quando Gadêlha ainda cogitava se lançar na disputa pela prefeitura do Recife. É o que revelam áudios obtidos com exclusividade por VEJA.

Nos áudios, Gadêlha relata conversas que teve como Marília, nas quais teria recebido dela a sugestão para embolsar parte dos salários dos servidores de seu gabinete, como forma de financiar sua futura campanha eleitoral. A prática, conhecida como “rachadinha”, é a mesma que levou o Ministério Público do Rio a denunciar o senador Flávio Bolsonaro por crimes como peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Nas gravações, Gadêlha diz que, em uma das conversas, Marília lhe perguntou: “Tu tá juntando fundo de caixa para a campanha?”. “Eu disse: ‘Tô vendo se junto um dinheirinho, tenho que pagar algumas coisas da campanha’”, teria respondido o deputado, segundo reproduziu no áudio.

Gadêlha ressaltou que aquela conversa deveria ficar entre ele e um dos interlocutores para quem ele contou a história: “Mas fica entre a gente, né?”, diz o deputado em um trecho da gravação. O parlamentar conta no áudio que Marília Arraes sugeriu a ele que juntasse 30 mil reais para o caixa de campanha. O deputado disse que não daria para juntar tanto dinheiro. Marília, no entanto, reafirmou que era necessário juntar os 30 mil, segundo reproduziu o deputado: “Não, 30 mil, tem que juntar da assessoria”, afirmou Marília, conforme reproduziu Túlio na gravação.

Gadêlha, na gravação, garante ter respondido para Marília que não pegaria dinheiro dos salários funcionários do gabinete: “Aí eu disse: ‘Não, não faço isso não, porque o que cada um recebe…’”. Foi quando Marília, segundo o deputado, concluiu que essa prática de pegar dinheiro de assessoria é comum entre os parlamentares: “Ah, Túlio, todo mundo faz isso, todo mundo faz”, ela teria dito, segundo reproduziu Túlio Gadêlha.

VEJA informou no início da tarde desta segunda o conteúdo da gravação para a assessoria de imprensa e para a chefia de gabinete do deputado. Duas assessoras de Túlio Gadêlha ouviram os áudios. Gadelha disse por intermédio de sua assessoria que não vai se pronunciar sobre o fato. No sábado, VEJA noticiou que o Ministério Público de Pernambuco cobra da candidata Marília Arraes a devolução de 156 mil reais aos cofres públicos em ação de improbidade. A deputada é acusada de contratar quatro funcionárias que tinham emprego em outras empresas e não prestavam serviços quando era vereadora na Câmara de Recife.

As investigações que identificaram as quatro servidoras com duplo emprego começaram a partir de uma denúncia sobre a existência de esquema de “rachadinha” no gabinete da vereadora Marília. Os funcionários, segundo relato feito ao MP, eram obrigados a devolver 60% dos salários. Inquérito aberto pela Polícia Civil de Pernambuco não conseguiu comprovar a existência da “rachadinha” e a parte criminal foi arquivada. O MP justificou a “falta de estrutura” para não fazer uma investigação mais aprofundada e acabou denunciando Marília somente pela dupla contratação de servidores e para que a candidata devolva o dinheiro público desviado.

Marília Arraes foi vereadora em Recife de 1º de janeiro de 2009 até 31 de janeiro de 2019. No dia 1 de fevereiro de 2019, ela assumiu como deputada federal. A suspeita de cobrança de rachadinha no gabinete coincide com um aumento do patrimônio de Marília. Em 2016, ela declarou ao TSE patrimônio de 773 mil reais. Em 2018, declarou 1,298 milhão de reais. Em 2018, Marília declarou na Polícia Civil de Recife que ganhava 11 mil reais mensais líquido. VEJA pediu para ouvir a candidata, mas a assessoria da candidata informou que “esta é uma questão de Túlio e não de Marília”.

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