A quarentena argentina vai continuar até, pelo menos, dia 11 de outubro, totalizando 205 dias. No interior do país, haverá um endurecimento das medidas de restrição. Metade da população rejeita a rigidez das medidas de isolamento.
Ciente do cansaço social após 182 dias de quarentena, pela primeira vez o presidente Alberto Fernández não apareceu para anunciar a 12.ª extensão do isolamento social obrigatório, iniciado em 20 de março. “A partir do diálogo constante com os especialistas e com os governadores de todo o país, decidimos manter as medidas de cuidado até domingo, 11 de outubro”, diz o anúncio oficial emitido por vídeo através das redes sociais.
O comunicado evitou usar o termo “quarentena”, substituindo-o por “medidas de cuidado”. Além disso, para evitar mais desgaste político, foi deixado para os governadores de cada província o anúncio das medidas de endurecimento. “As autoridades locais serão as que determinarão as novas indicações para cada território. O governo nacional recomenda incrementar as restrições para diminuir a circulação das pessoas”, indica a declaração oficial.
Enquanto os países vizinhos experimentam uma estabilidade de casos ou mesmo uma diminuição do número de contágios, a Argentina observa um aumento de casos, o que faz do país o décimo com mais infecções acumuladas, apesar de ser um dos que menos testes faz. A onda de contágios na Argentina avança pelo interior do país, onde o sistema de saúde é mais frágil.
“Em maio, o interior representava apenas 7% dos contágios enquanto a área metropolitana de Buenos Aires respondia por 93%. Agora, o interior representa 49,2%, quase a mesma porcentagem de Buenos Aires com 50,8%. Na área metropolitana da capital, a curva de contágios é alta, mas estável”, exemplifica o anúncio oficial, apontando uma ocupação de 67,3% das UTI.
Rejeitada pela metade da população
A quarentena argentina tem perdido o amplo apoio popular inicial e é agora rejeitada por 53,4% dos argentinos, de acordo com uma sondagem da consultora Giacobbe.
Ao mesmo tempo, a popularidade do presidente Alberto Fernández, que em março registrava uma taxa de aprovação popular de 67,8%, desceu agora para 37,1%. A imagem negativa superou a positiva, passando a 48,5%. “O presidente Alberto Fernández perdeu tudo aquilo que conquistou durante o começo da quarentena. Voltou ao baixo patamar que tinha ao assumir o cargo em dezembro”, explica à RFI o analista político Jorge Giacobbe.
Nas últimas semanas, o presidente passou a negar que exista uma quarentena, preferindo eufemismos como “isolamento sanitário” e “medidas de cuidado”. “Os jornais podem publicar que estamos em quarentena, mas é mentira. É falso”, insiste Alberto Fernández.
A Argentina não permite aulas presenciais e o uso dos transportes públicos para quem não for funcionário de um trabalho considerado essencial. A circulação de pessoas e de veículos necessita de permissão especial. Não são autorizados os deslocamentos de cidadãos entre municípios e províncias. Não há voos domésticos nem internacionais. Estão proibidas as reuniões de amigos e familiares que não convivam e a permanência de crianças nas ruas das áreas mais povoadas do país.
Choque com Buenos Aires
A capital, governada pela oposição, tem entrado em conflito com o governo nacional quanto à postura de flexibilizar as restrições. O governador do Distrito Federal, Horacio Larreta, anunciou novas aberturas. Bares e restaurantes que já podiam ter mesas nas ruas, agora vão poder somar pátios internos e terraços, mas os espaços internos vão continuar fechados. Depois de seis meses de quarentena, os habitantes da capital do país vão poder ter atendimento médico e fazer exames, algo que estava restrito aos casos urgentes.
Na cidade, as construções de obras com mais de 5.000 metros quadrados e aquelas que estiverem a menos de 90 dias da sua finalização poderão ser retomadas. E os cultos religiosos vão poder ser realizados com 20 pessoas no máximo.
“Há 10 semanas, o número diário de contágios na cidade está estabilizado em mil casos. É uma estabilidade num nível alto, mas é um alento porque temos conseguido somar atividades e manter o nível de contágio estável”, declarou Larreta.
Com 45 milhões de habitantes, o número de infectados no país pelo novo coronavírus soma 613.658 e os mortos são agora de 12.655. Um total de 3.108 pessoas estão em terapia intensiva, número que faz da Argentina o quinto país com casos mais graves do mundo, apenas atrás de Estados Unidos, Índia, Brasil e Irã.