O Azerbaijão acusou nesta segunda (5) a Armênia de ampliar os ataques contra alvos civis em seu território, após passar o fim de semana atacando áreas povoadas do encrave separatista de Nagorno-Karabakh.
O governo de Ierevan negou, mas separatistas armênios admitiram ter feito ataques fora do território, dizendo buscar acertar posições militares.
O conflito entre os dois países já dura nove dias e ultrapassou o estágio de uma escaramuça sobre Karabakh, chamada de Astrakh pelos armênios, área disputada que fica dentro do Azerbaijão.
Segundo Baku, as cidades de Barda, Terter e Beyalagan foram atingidas por artilharia. Um civil teria morrido, segundo relatos, elevando para 25 o número de azeris mortos desde o domingo retrasado -o país não divulga baixas militares.
Do lado dos armênios de Karabakh, são contados 202 militares e 18 civis mortos. Os dados conflitantes são de difícil checagem, mas as indicações são de mais vítimas de ambos os lados. As Forças Armadas dizem que mataram cerca de 2.000 soldados cada, o que parece exagero.
Quando ambos os países emergiram independentes após o fim da União Soviética em 1991, eles entraram em guerra aberta pelo controle de Nagorno-Karabakh, de 1992 a 1994. O conflito matou então entre 17 mil e 30 mil pessoas, dependendo de quem faz a conta.
Baku acusa a Armênia, há a intenção de responsabilizar Ierevan por ações militares. De fato, apesar de os armênios dizerem que a guerra é entre Karabakh e o Azerbaijão, as Forças Armadas do país dão suporte para os separatistas e ajudam a controlar os sete distritos ocupados em torno de Karabakh na guerra dos anos 1990.
Eles garantem a chamada profundidade estratégica, ou seja, são territórios tampão entre as forças azeris e os armênios étnicos. Karabakh é uma região historicamente armênia, e só ficou dentro do Azerbaijão devido à divisão de forças patrocinada pelos soviéticos nos anos 1920.
Naquele momento, Moscou queria manter relaçõe estáveis com a nascente República da Turquia, que apoia os azeris e não tem relações diplomáticas com a Armênia, país onde seu antecessor, o Império Otomano, patrocinou uma campanha de limpeza étnica que deixou 1,5 milhão de mortos em 1915.
A Turquia está no centro da nova rodada de hostilidades, com o presidente Recep Tayyip Erdogan apoiando militarmente Baku, embora sem admitir o uso direto de suas forças.
Isso o coloca de lado oposto ao russo Vladimir Putin, que apesar da relação frágil com a liderança armênia que assumiu em 2018 após a derrubada de um governo pró-Moscou, é o protetor militar de Ierevan -o Kremlin tem inclusive uma base com tanques, caças e 3.000 soldados no país.
Putin está se movendo com calma e, ao lado de seus parceiros de negociação na região, França e EUA, pediu um cessar-fogo. A Armênia aceitou, mas o Azerbaijão disse que só irá parar as operações militares se Ierevan apresentar um cronograma para entregar Nagorno-Karabakh e os sete distritos que ocupa.
Isso não está em questão para os armênios. Agora, os azeris estão avançando sobre posições nessas áreas ocupadas. Baku se queixa da ação contra civis, mas há registros de bombadeio contra áreas civis, particularmente na capital de Nagorno-Karabakh, Stepanakert.
A cidade passou parte do fim de semana sem eletricidade devido aos ataques com mísseis e artilharia. No domingo, o líder separatista, Arayik Harutyunyan, postou no Twitter que os azeris que moram perto de bases militares em cidades do país deveriam deixar suas casas porque poderiam virar danos colaterais em ataques.
No fim de semana, o Azerbaijão relatou ataques de mísseis contra Mingachevir, uma importante cidade que tem o maior reservatório de água do país, além de uma usina elétrica. Novamente, Ierevan negou.
A guerra de versões é particularmente intensa neste conflito. Os azeris não permitem a ação da imprensa internacional, e do lado armênio há muito nacionalismo nos relatos de sua imprensa, que é livre. Isso, somado aos relatos contraditórios por natureza das redes sociais, gera o caos narrativo que se vê em solo.