Uma adolescente de 12 anos foi resgatada após ser encontrada com as pernas amarradas e trancada dentro de casa em Praia Grande, no litoral de São Paulo. De acordo com a Polícia Civil, a menina estava há dois dias sem comer, e relatou que já havia passado por isso outras vezes. A mãe é a principal suspeita dos crimes de cárcere privado e maus-tratos.
A Polícia Militar informou que foi acionada para atender à ocorrência por volta das 7h30 desta quarta-feira (21), no bairro Quietude. De acordo com a PM, a menina recebeu a ajuda de um familiar, que é vizinho da adolescente, mora ao lado de sua residência.
Ainda segundo a Polícia Militar, a vítima estava amarrada pelas pernas com uma camiseta, sentada sobre um colchão, trancafiada por dois cadeados na porta. Conforme relatado pela delegada Lyvia Bonella, titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) da cidade, o familiar notou que a porta e a janela do quarto da menina estavam com grades, diferentemente do restante da casa.
“Ele estranhou aquilo, foi até a casa, quebrou os cadeados para entrar no local, e assim que entrou no quarto, a viu trancada e amarrada. Ele deu água para ela e acionou a PM. Esse vizinho informou que a mãe da menina trabalha todos os dias em Santos, sai de casa muito cedo, por volta das 5h, retornando às 23h. E que só fica em casa segunda-feira, dia de folga dela”, explica a delegada.
De acordo com a autoridade policial, a menina relatou de forma espontânea ao familiar que a mãe faz isso porque se ausenta para trabalhar e tem uma outra filha, de 17 anos, que já fugiu de casa, e que só aparece na ausência dela. “Inclusive, segundo o relato espontâneo da menina de 12 anos, a mãe perguntou se ela sabia do paradeiro da irmã mais velha. Ela teria dito que não sabia, e por isso a mãe teria a amarrado e trancado no quarto”, relata a delegada.
Em nota, a Prefeitura de Praia Grande informou que uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foi acionada ao local e levou a menina ao Hospital Irmã Dulce. “Ela foi encaminhada ao hospital porque estava com uma aparência muito fragilizada”, diz a delegada.
No hospital, a menina recebeu todos os cuidados necessários, foi liberada e encaminhada pelo Conselho Tutelar à delegacia para dar sua declaração. Posteriormente, foi para um abrigo da cidade.
Conselho Tutelar
Ao G1, a conselheira tutelar Roberta Brito, que atendeu à ocorrência, explicou que prestou todo o apoio após ser acionada pela polícia. “Segundo informações, a adolescente estava amarrada pelas pernas. Quando me acionaram, já tinham a levado para o hospital, porque, segundo o familiar, a menina estava fraca, sem se alimentar, porque a responsável tinha a amarrado e ido trabalhar. Ontem [quinta], ainda não tínhamos conseguido contato com a mãe, e a única pessoa que consegui falar foi com a avó, que mora em outro município”, explica.
De acordo com a conselheira, foi necessário acolher a vítima emergencialmente, e ela foi encaminhada ao abrigo. Agora, conforme explica, caberá à Justiça avaliar e decidir se a adolescente ficará sob a tutela de algum familiar ou se permanecerá na casa de acolhimento.
Próximos procedimentos
Segundo a delegada, a perícia foi encaminhada ao imóvel onde a vítima vivia. Será instaurado um inquérito para a apuração dos fatos, e a mãe da adolescente será intimada a prestar esclarecimentos sobre o ocorrido.
“Vamos, também, solicitar a escuta especializada, encaminhar a vítima aos órgãos de assistência social, para que ela receba o atendimento adequado. E o crime será tratado como cárcere privado e maus-tratos, porque a menina apresentava sinais de má-alimentação, estava fraca. Conforme os relatos, não é a primeira vez que a mãe da adolescente faz isso. A menina estava a dois dias sem comer”, afirma a autoridade policial.