Luiz Paulo Dominghetti Pereira, o homem que se apresentou como representante da Davati Medical Supply e que denunciou um suposto esquema de propina praticado pelo ex-diretor do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, para uma suposta aquisição de vacinas da AstraZeneca, é cabo da Polícia Militar de Minas Gerais.
A informação pode ser confirmada em acesso ao Portal da Transparência do governo mineiro, onde Dominghetti aparece como servidor ativo da corporação policial. Segundo esta, o agente trabalha no município de Alfenas, no Sul do estado.
Ao jornal Folha de São Paulo, o policial militar disse que negociou com representantes do Ministério da Saúde a venda de 400 milhões de doses da vacina AstraZeneca e só não fechou negócio porque não concordou em pagar propina. A Davati, porém, nega que Luiz Paulo seja seu representante no Brasil.
De acordo com informações repassadas ao portal G1 por um homem que trabalhou com o policial militar tentando vender vacinas às prefeituras mineiras, o envolvimento de Dominghetti neste tipo de negócio é recente, teria começado em 2021. Segundo esse homem, nenhum contrato chegou a ser assinado.
– Eu conheci ele mais ou menos em fevereiro deste ano. Foi na época que o estado do Amazonas estava tendo aquele colapso da Covid – disse o homem que não quis se identificar.
Dominghetti Pereira morou em Belo Horizonte até o fim do ano passado. A vizinhança informou que a família do PM era reservada e praticamente não tinha contato com os moradores da região. Entretanto, o dono do apartamento em que ele morava disse que Dominghetti saiu devendo quatro meses de aluguel e que ainda responde, na Justiça, a um processo de cobrança desta dívida.
Já em outro processo, o PM é acusado por uma mulher de ter comprado um carro financiado em nome dela. Além de não pagar as parcelas, o agente policial teria levado multas que estão em nome da proprietária e sumiu com o veículo, que até hoje não foi localizado. Ao todo, o nome de Dominghetti aparece em 37 processos na Justiça.
Oficialmente, a Davati negou que Luiz Paulo seja seu representante no Brasil e confirmou que não tem convênio com a AstraZeneca, mas afirmou que o policial atua como “vendedor autônomo”, sem vínculo empregatício com a empresa.
– Nesse caso, ele apenas intermediou a negociação da empresa com o governo, apresentando o senhor Roberto Dias – disse a empresa, em comunicado.
A Davati também admitiu que não tem convênio com a AstraZeneca. O laboratório responsável pela vacina afirmou que não tem empresas privadas como representantes e que só vende imunizantes contra a Covid a governos e organismos multilaterais.
A PM de Minas Gerais informou que, depois que o caso envolvendo o policial veio a público, instaurou relatório de investigação para apurar se a conduta dele fere o código de ética e disciplina da instituição. A PM disse ainda que Dominghetti trabalhou no gabinete militar do governo do estado, mas foi afastado da função por não atender ao perfil necessário de atuação no órgão.