O médico que foi preso após atirar em vizinhos, da janela do prédio onde morava, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, vai ser internado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP), em Itamaracá, na Região Metropolitana. Segundo o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), esse foi o resultado da audiência de custódia de Sando Roberto Lopes, de 54 anos, realizada nesta sexta (25).
Ainda segundo o TJPE, na audiência de custódia foi acolhido o parecer do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) para conceder a liberdade provisória ao médico. No entanto, foi aplicada a medida cautelar de internação provisória de Sandro Roberto Lopes no HCTP.
“Expeça-se ofício encaminhando o autuado ao HCTP, que deverá permanecer em internação provisória, até ulterior deliberação do Juízo para o qual forem distribuídos os autos”, disse o TJPE.
Além disso, foi expedido um ofício à Polícia Federal para suspensão do seu direito de posse de arma de fogo.
“Há nos autos elementos que indiquem um grau de periculosidade do autuado, bem como da hipótese de não possuir o autuado sua perfeita saúde mental, o que se revela pela própria dinâmica do delito e do fato do autuado já ter tido internado em hospital psiquiátrico”, informou o TJPE, por meio de nota.
O tribunal informou também que, em caso de dúvidas sobre “a completa saúde mental do autuado”, o Judiciário deve analisar, ou não, a “instauração de incidente de insanidade mental”.
Em entrevista ao G1, o advogado do médico, Rodrigo Lins, informou que Sandro Roberto Lopes sofre de esquizofrenia. Ainda segundo ele, Lopes “vem passando por problemas” nos últimos meses.
“Ele passou por uma separação da esposa. Está divorciado e não tem filhos. A família está acompanhando o caso. O divórcio pode ter relação com os problemas de saúde”, declarou o defensor.
Lins disse que não foi estipulado prazo para a manutenção do médico no hospital psiquiátrico. “Ele deve ficar lá até que esteja bem. Foi determinado que ele siga para o hospital ainda nesta sexta (25)”, comentou.
Lins disse, ainda, que Sandro Lopes estava afastado das funções de médico há algum tempo. Sobre a posse das armas, o defensor afirmou que estava “tudo registrado”. “Ele pode ter tirado a arma, seguindo os requisitos, antes de ter o problema de saúde”, comentou.
Flagrante
O flagrante foi registrado pela polícia na tarde de quinta-feira (24). O médico, segundo a corporação, pretendia atingir jovens de 19, 23 e 25 anos que chegavam ao Edifício Cozumel, na Rua Feliciano José de Farias. Ninguém ficou ferido.
Segundo a Polícia Militar (PM), o médico se entregou depois de uma negociação com equipes do 19º Batalhão.
Crime aconteceu na Rua Feliciano José de Farias, no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife — Foto: Google Street View/Reprodução
Ainda de acordo com a PM, moradores e o porteiro do edifício relataram que o homem tinha posse de arma de fogo e já havia se envolvido em um problema parecido antes, mas a corporação não divulgou qual foi a motivação.
Moradores do prédio disseram para a TV Globo que o médico costumava circular pelo condomínio com armas de fogo. Por medo de represálias, eles pediram para não ter os nomes divulgados, mas falaram que tinham medo do vizinho.
Armas
Após a prisão, os PMs fizeram buscas no apartamento do médico. Eles apreenderam uma espingarda calibre 12 e uma pistola 9 milímetros.
As armas foram encaminhadas para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), localizado no bairro do Cordeiro, na Zona Oeste do Recife.
A PM disse, ainda, que o homem tinha posse de arma autorizada pela Polícia Federal (PF). Questionada pelo G1 a respeito da concessão de porte de arma para o médico, a PF informou que não poderia repassar esse tipo de informação, já que é um dado “sigiloso”.
No site, a PF informa que para ter porte de arma de fogo, entre outros requisitos, a pessoa precisar ter um laudo de “aptidão psicológica”.
Também deve ter um comprovante “que ateste a capacidade técnica para o manuseio de calibre igual ou superior ao que se pretende portar, emitidos por profissionais credenciados pela Polícia Federal, ambos com prazo não superior a um ano, contado da data da avaliação”.
Sobre outros casos envolvendo o médico, o TJPE informou que não encontrou outros processos criminais. Disse que localizou sete processos de natureza cível, fazendária e execução fiscal.
O G1 entrou em contato com o Conselho Regional de Medicina do Estado de Pernambuco (Cremepe) para saber se a instituição vai se pronunciar sobre a prisão do médico, mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem.